quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

Hoje não tem nada de festa, de movimento corporal, nem coração batendo descompassado. Hoje tem tédio e espera, servido de bandeja em agulha, no branco daqueles que te pouparam a vida. Vejo um teto bege, mofado de dor e angustia que passou por olhos de vários outros corpos além desse jogado nessa maca.

***

No chão com a cabeça imóvel, abro os olhos como quem leva um susto, vejo vultos diante ao caos que me rodeia, vejo um milhão de lajotas cinzas retangulares que me servem de apoio. Gritos, sussurros fazem parte da trilha sonora do terror noturno que se instalou na minha mente, que pensa desesperadamente em abstrair isso tudo.
O filme dos dez minutos mais longos da vida passando em câmera lenta.
Não sinto nada, e ao mesmo tempo sinto o mundo desabar sobre o meu corpo de uma maneira tão insuportável, que como em toque de mágica me tele transporto para outro lugar. O lugar das lembranças não vividas, as estrelas que não sei o nome, a viagem que não fiz, o livro em cima da mesa que não terminei, as pessoas que eu gosto e nunca falei, a face da morte que não vi, mas imaginei. Quando me dou conta onde estou, um grito! Que sobe preso da ponta do dedão do pé esquerdo até a ponta da língua e se salta, como forma de alivio ou de se sentir viva, seguido por vários outros histéricos.
Um sobretudo preto, e um rapaz de óculos se abaixa como em parto de cócoras e fala:

- Desculpa. Como você está? Me trazendo a realidade da dor, junto com a vida mal lavada, renascida naquele momento.

Cuspo xingões desesperados pela falta de atenção que tivera me levando para tudo isso.

***
Era um dia normal como todos os outros dias, seguia a minha rotina tediosa, a não ser pelo fato de ter que parar no posto, Lúcida estava sem combustível, então o tempo que eu tinha para me alimentar teria que ser deixado para mais tarde, da forma que preparei um pão, joguei na sacola, seguindo meu rumo.
Ah! Como é bom esse vento no rosto, fiz a curva mais perfeita da minha curta vida de condução, que ainda adquiria experiência na prática.
Pista vazia, quando me deparo com aquela tartaruga verde de faróis de olhos de japonês, andando indecisa pelo seu caminho. Ora ocupava as duas vias, ora ocupava a via rápida com passos de caracol.
Na pista lenta, andando na velocidade normal a ser trafegada, agora muito perto da tartaruga insana que posso até ver seu nome, Corsa, ela se chama Corsa! E mais tarde vim a saber que seu sobrenome estampado no vidro traseiro era “Deus é fiel”!

Nenhum comentário:

Postar um comentário